Uma vez uma nuvem, cansada de rodear todo o mundo, voltou-se para Deus dizendo: Deus estou cansada de ser uma nuvem, sempre estou carregada, e quando me livro do peso, lanço água sobre os bosques, sobre os mares, sobre os campos do mundo, quando chegará a minha vez se me livrar desse peso? Transforma-me no vento, ele sim não tem o que reclamar. Então Deus transformou aquela nuvem no vento. Depois de rodear todo o mundo, o vento voltou-se para Deus dizendo: Deus estou farto, já passei por frio, por calor, já fui nos mais altos lugares, já passei pelos mais baixos também, pelos caminhos estreitos e pelos largos, nada ganhei, fiz a felicidade dos veleiros, mas não me alegrei, passei pelos bosques, pelas belas árvores, senti a fragrância das flores, peço -te, transforma-me em uma árvore, elas sim possuem a verdadeira felicidade. Então Deus atendendo mais uma vez ao pedido, transformou -o em uma árvore. Passado-se um ano, a árvore voltou-se para Deus dizendo: Deus, que me fizeste? Olha o meu estado, estou doente, velho, cheio de animais vivendo em meus galhos, as flores caem, não dou mais fruto, estou prestes a ser cortado, um ano se passou, e a nenhum lugar pude ir, mas a terra nas minhas raízes, ela sim sabe o que é ser feliz, está sob toda a extensão desse mundo, peço -te mais uma vez, transforma-me na terra deste mundo. Então Deus mais uma atendendo ao pedido, transformou -o na terra do mundo. Passado-se um mês, a terra voltou-se para Deus dizendo: Deus, como pode ser possível? Vaguei por esse mundo, estou farto, os seres deste mundo constantemente pisam em mim, com desprezo me tratam, não estás vendo? Para onde eu vou, onde me esconderei, quem será o meu refúgio? Se para um lado eu corro, em mim cospem, se para o outro lado eu vou, ali também me perseguem, não quero ser mais terra, peço -te uma última vez, transforma-me na água, pois ela sim, com toda sua pureza, deve ter paz. Então Deus, em sua misericórdia, transformou aquela terra em água. Passado-se um dia, a água voltou-se para Deus dizendo: Deus, percebo agora que não te importas comigo, pois fui nos mais profundos oceanos, passei pelos rios, a pureza que eu tinha foi contaminada pela sujeira desse mundo, olha o meu estado, não me deste a direção, me largaste na imensidão das águas sem me alertar das consequências, ainda não encontrei a paz que eu queria, ainda tive a felicidade que sonhava, continuo cansado, de onde virá o meu socorro? Quando eu era nuvem, pelo menos eu poderia contemplar as belezas desse mundo, dos altos céus eu podia sentir o vento, aguava os campos e as flores, passeava pelo mundo, peço-te, transforma-me novamente em uma nuvem, pois sou inocente diante do desconhecido. Então Deus dos altos céus, ouvindo mais uma vez a angústia, perguntou para a água: Onde foi que eu errei? Mostra-me, em qual momento te abandonei? Quando eras nuvem, eu era quem aliviava o teu peso, quando carregada, eu te sustentava com as minhas mãos, o que para te parecía um fardo, era benção para outros, assim eu te usava para abençoar outros, quando vento, te dei a liberdade de ir e vir, conhecer os quatro cantos da terra, te fiz sentir o cheiro suave das flores, mas você mudou, não passava mais na minha presença, você vinha conversar comigo, e como briza suave você levava a minha mensagem, quando árvore, um ano se passou, e você nem se quer olhou para cima, vendo que ao seu redor havia outros como você, se ajuntou a eles, de mim se esqueceu, no momento do desespero, quando viu que a morte se aproximava, lembrou de mim e ainda assim, pela minha misericórdia te dei livramento, quando terra, vagou por diversos lugares, virou as costas para mim dando atenção as coisas do mundo, foi pisado, moído, desprezado, e em todos esses momentos eu estava atento, apenas esperando o momento que fostes chamar pelo meu nome, quando água, trocou a pureza que te dei, pelo sujeira desse mundo, mergulhou em águas estranhas, nas profundezas buscou o que não devia, enquanto a minha presença ficava cada vez mais raso, em qual desses momentos olhaste para mim? Quando me procurastes para ser o teu refúgio? Quando você me enxergou sendo a tua paz e felicidade? O que era teu, sempre esteve guardado, a tua felicidade e a tua paz sempre estiveram em mim, o teu refúgio e socorro sempre foram EU,  quando entenderás que EU sou Deus?

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